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quarta-feira, julho 05, 2017

DE GENTE COM BOAS INTENÇÕES O INFERNO ESTÁ CHEIO!


Após algumas décadas de convivência intensa com autores e obras que influenciam o pensamento humano ao longo dos séculos, penso que ainda estou longe da maturidade intelectual, mas já andei o bastante para entender uma dura lição: que as boas intenções são tão ilusórias quanto inúteis diante dos fracassos, sobretudo quando a caminhada nos leva até uma bifurcação, que é justamente a encruzilhada onde o sujeito se sente perdido. 



Mas, quem de nós, nunca se deparou com uma encruzilhada no caminho? Quem nunca fez escolhas erradas, acreditando que estava certo?


Agora mesmo o Brasil (país refém de juristas inconfiáveis e de políticos larápios) está parado numa encruzilhada, com a sociedade sentindo-se perdida diante de uma trifurcação, essa que agora nos solicita uma decisão acerca do caminho a seguir. Mas qual dos três atalhos é o mais seguro e mais firme? 

Essa pergunta só será respondida se formos capazes de refletir agora com racionalidade e objetividade, longe das falácias populistas, das farsas moralistas, das utopias idealistas, das promessas salvíficas, das soluções mágicas, e se levarmos em consideração as lições de Max Weber no que tange à ética da convicção e ética da responsabilidade de cada ação nossa, que são éticas bastante distintas entre si. 

Quem recorre à Ética da convicção, supõe estar em condições de julgar as ações individuais segundo os valores ou princípios absolutos seculares, tais como: não matar, não roubar, não mentir... Ou seja, impõe acima das demais a ética da moral do indivíduo, cuja intenção é sempre mais importante do que o resultado concreto das suas ações. (Eis o engano, o erro, o risco)

Quem recorre à Ética da responsabilidade, deve estar preparado para analisar as ações de grupos ou as ações praticadas por um indivíduo em nome e por conta do próprio grupo, seja a família, o clube, a igreja, o sindicato, o partido, o povo do vilarejo ou a nação inteira. 

Quem analisa a situação do Brasil atual sob as lentes da ética da responsabilidade, deve levar em consideração as consequências dos atos anteriores da sociedade e as ações pregressas e atuais dos agentes políticos, atos que determinaram a situação presente que afeta a vida das pessoas, notadamente em matéria de economia-política, cujas boas intenções anteriores não justificam os fracassos no presente. 

Não há, com base nessa ética, desculpa para o fracasso, porque o fracasso, apesar das promessas e das esperanças, já era previsível quando a sociedade fez as suas escolhas políticas acreditando nas boas intenções e na pregação de valores morais que o partido vitorioso propagava aos quatro ventos. Como se diz por aí: “De gente com boas intenções, o inferno está cheio” ou ainda, “Não basta a mulher de César ser honesta; é preciso ser e parecer honesta”. 

Quem analisa uma situação do país mantendo-se distante da ética da responsabilidade, terá sempre muita dificuldade de entender a natureza de certas ações políticas ou jurídicas que danificam a Nação, e também o que norteia a economia-política para benefício do todo social. 

Nessa análise, válido é, portanto, lembrar o que já diziam Maquiavel e Max Weber: são morais as ações que forem úteis à sociedade, e imorais aquelas que a prejudicam, visando apenas interesses particulares. 

Por essa razão os políticos moralistas (seja de direita ou de esquerda) adulteram todos os fundamentos éticos durante suas campanhas e propagam um discurso calcado somente na ética da convicção ou de valores: não roubar, não mentir, não corromper, etc. Mas quando chegam ao poder, são obrigados a se adequarem à realidade de uma política ordinária e secularmente viciada, e logo abandonam o discurso da convicção e adotam o discurso de oportunidade. 

No campo social e político é impossível conciliar a ética da convicção e a ética da responsabilidade, assim como não é possível que, em se fazendo qualquer concessão ao princípio segundo o qual os fins justificam os meios, uma autoridade da justiça venha decretar, em nome de uma moral artificial, qual o fim que melhor justifica um meio. 

Aprendi com os mestres (todos já moribundos e esquecidos) a pautar as minhas análises em matéria de economia-política, com a racionalidade e objetividade herdada de Fitcher: “Não tenho o privilégio de pressupor a bondade ou a perfeição do homem e não posso lançar nos ombros alheios as consequências previsíveis das minhas próprias ações ou decisões, porque essas consequências serão imputadas às minhas próprias escolhas. 

Finalizo essa reflexão formulando algumas perguntas às autoridades moralistas e aos embusteiros do Brasil, esse seres iluminados que pretendem, a qualquer custo moral, subverter, por via legalista, os princípios que embasam a ética da responsabilidade, impondo para a sociedade uma ética de convicção negociada com o sub-mundo do crime, às portas fechadas e entre quatro paredes:  

1. Há quanto tempo Bolsonaro é titular na Presidência do Brasil?

2. Seu governo recebeu o país em meio a uma crise política e com déficit de decência?

3. A economia estava saneada ou esfacelada?

4. Bolsonaro é responsável pela crise econômica provocada pela Covid?

5. Seu governo apresentou algum resultado econômico concreto, apesar das sabotagens dos gestores estaduais e municiapais da pandemia?

6. A crise econômica em decorrência da lacração vem afetando a vida do cidadão? 

7. O afastamento de Temer resolverá as crises (política e econômica) que o país enfrenta? 

8. Quem estaria na linha sucessória para substituí-lo?

9. Um sucessor tampão, eleito por via indireta por políticos, resolveria as duas crises (política e econômica)? 

10. Quantos meses precisaria o governo tampão para formar o novo gabinete ministerial e para preencher os cargos nos 4 escalões? 

11. Os eventuais substitutos são honestos; têm reputação ilibada e desfrutam da confiança popular?

12. O país está sólido e forte para suportar um ano de paralisação, de nadismo e de badernas? 

13. Como ficaria a economia até as próximas eleições, em 2018? 

14. Quando custaria essa aventura ao país?

15. Quem pagaria a conta?

Ruy Câmara
Escritor

https://blogdoescritorruycmara.blogspot.com.br/2017/07/de-gente-com-boas-intencoes-o-inferno.html


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