ESPAÇOS VAZIOS NA
CIA E NO CORAÇÃO DE UM HEROI
A vida de um general de guerra, de um agente da CIA ou a vida de um escritor consciente do seu ofício é, na melhor das hipóteses, uma vida de solidão e o amor quando brota no íntimo de um solitário, rasga seu peito com inpiedade, tal como fazem as raízes de uma roseira, que logo mostram um caule de espinhos sustentando uma bela rosa vermelha.
As notícias dão conta de que o general da reserva do glorioso exército dos EUA, David Petraeus, chefe da CIA desde setembro de 2011, renunciou hoje ao importante cargo em função de um RELACIONAMENTO EXTRACONJUGAL.
Eis o que o general escreveu em sua carta de renúncia entregue ao Barak Obama.
Após ter sido casado por 37 anos, eu mostrei extremamente o meu pouco juízo ao me envolver num caso extraconjugal. Tal comportamento é inaceitável, tanto como marido, quanto como líder de uma organização como a nossa.
O que é isso? O homem que comandou a guerra após o atentado de 11 de Setembro; que foi o líder de 140 mil soldados da força internacional no Afeganistão; sem contar as missões perigosas e suicidas da qual tomara parte nos territórios de guerras, renunciou hoje a um dos cargos mais importantes do mundo porque envolveu-se numa relação extraconjugal após 37 anos de casado com a Srª Virginia, mãe dos seus dois filhos adultos? Creio que nem mesmo a Srª Virginia o perdoará pelo rigor e severidade moral com que seu marido se puniu.
No Brasil dos petralhas, dos políticos salafrários e dos bandos de marginais que atuam no Congresso Nacional, tal situação é impensável. Aqui os quadrilheiros da política são flagrados roubando a nação, extorquindo empresários, praticando corrupção e quando são denunciados pelo Ministério Público, com fartura de provas incontestáveis, ainda ousam permanecerem nos cargos até o tombo final, alegando inocência e mentindo descaradamente e ainda contam com a conivência e cumplicidade de gente graúda do poder.
Qualquer cidadão americano tem consciência de que o exército dos EUA o treinou para ser um soldado honrado, digno, cumpridor das suas missões e notadamente preparado para MATAR centenas ou milhares de pessoas com uma ordem ou um disparo. Mas ninguém daquela academia (US Army) ensinou ao oficial, David Howell Petraeus, mestre e doutor em Relações Internacionais pela Princeton, que os sentimentos, paixões, ódios, desejos, preferências e as dores do amor que precedem o SER são determinidades puramente humanas que estão no âmbito exclusivo do indivíduo, da intimidade de cada um, e pouco diz respeito às questões de Estado, senão à questão MORAL, que nesse caso é de foro íntimo.
Tivesse ele em guerra e mandado despachar milhares de afegãos, cazaquistãos, iraquianos ou líbios para o éter, não estaria sofrendo essa crise de consciência; não estaria em julgamento nenhuma questão MORAL contra si, e provavelmente o inocente general ainda seria distinguido com as medalhas de bravura e as horas militares que os governos concedem aos heróis da pátria.
Ao renunciar ao cargo de líder do Serviço Silencioso da Nação americana, David Howell Petraeus ignorou solene aquilo que o genial escritor, Leon Bloy, externou um dia, não exatamente com as mesmas palavras da sua carta de renúncia, mas com o mesmo sentimento de quem tardiamente descobriu que há espaços vazios no coração de um homem que ainda não possuem existências, e neles o amor e o sofrimento penetram para que outros espaços possam existir com plenitude.
Parece certo dizer que a lógica que norteia a vida e o amor, com direito a desfrutá-lo nas tremuras da carne, está completamente invertida diante de um paradoxo que se afirma com autarcia: Matar em tempos de guarra pode; amar em tempos de paz não pode! Eis uma questão moral que nem mesmo a intelligentsia americana, por mais suprema que se presuma, conseguirá deslindar.
Ruy Câmara
Escritor
http://blogdoescritorruycmara.blogspot.com.br/2012/11/espacos-vazios-na-cia-e-no-caracao-de.html
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