segunda-feira, junho 20, 2016

CRÔNICA DA DELAÇÃO SUPERPREMIADA DE SERGIO MACHADO.

Conheci Sergio Machado nos anos 80, ao tempo em que atuávamos na iniciativa privada e associações de classe, com o propósito de consolidar no Ceará o 2º maior polo da indústria têxtil do Brasil. E o Estado conseguiu e depois destruiu. 

Em 1987, enquanto Eu e muitos outros empresários nos ocupávamos com a produção de manufaturados e negócios de exportação, os rapazes do CIC (Centro Industrial do Ceará), liderados por Tasso Jereissati, Sergio Machado, Beni Veras e outros, ingressaram na vida pública, ganharam as eleições e tomaram as rédeas do governo do Ceará. 


Mas, no final daquela década conturbada a economia brasileira começou a sofrer severamente as inconsequências dos planos econômicos mais desastrados da história (plano cruzado, plano Bresser...) e a indústria manufatureira do Brasil afundou durante o governo Sarney, levando para o abismo milhares de empresas comerciais de todos os portes e setores da economia.



Em 1992, Fernando Collor de Mello gritou do palácio que o Ceará já era uma referência e um exemplo de gestão pública a ser seguido pelo Brasil. Enquanto todos nós aplaudíamos as proezas políticas dos rapazes do CIC Eu, em meio a mais uma crise econômica e política que se abatia ferozmente sobre o país, decidi me afastar dos negócios, apurei uns trocados e passei a me dedicar exclusivamente aos livros. 



Naqueles anos perversos e adversos para quem produzia, Sergio Machada enfrentava muitas dificuldades financeiras, mas com o apoio de Tasso Jereissati e outras lideranças do Estado, ele elegeu-se deputado federal, depois elegeu-se senador da república pelo PSDB; e eu permaneci encafuado na minha biblioteca por 11 anos, sem me deixar contaminar com as questões do mundo empresarial e político.  


Em abril de 2002, Sergio Machado (senador em fim de mandato e relator do orçamento da União) apareceu na minha casa na companhia do seu filho, Daniel Machado, e falou-me com entusiasmo dos seus planos políticos, dos conflitos de interesses com os seus ex-aliados do CIC, falou-me das dificuldades eleitorais que enfrentaria, já que Tasso Jereissati, Ciro Gomes e outros, decidiram apoiar o senador tucano, Lúcio Alcântara, hoje um dileto amigo a quem prezo muitíssimo. 

Poucos dias depois dessa visita reunimos um grupo de apoiadores da sociedade civil, instalamos o comitê central de campanha em minha casa, escrevemos a dez mãos um consistente plano de governo e lançamos Sergio Machado ao governo do Ceará. Durante 6 meses de canseira e de convivência intensa com sua família (esposa, filhos, irmãos e seus pais) a nossa amizade se fortaleceu, fortalecendo mais ainda a nossa convicção de que Lula e o PT seriam um desastre para o país. 

É verdade que lutamos com afinco contra todas as forças contrárias ao nosso projeto (e eram muitas e bem mais poderosas), mas a escassez de recursos financeiros prejudicou a campanha na reta final e Sérgio Machado perdeu as eleições para Lúcio Alcântara, o candidato do PSDB que mais tarde viria a romper com os patrocinadores da sua vitória: Tasso, Ciro e outros líderes locais. 

Em 2003 vieram as compensações que aplacaram de certo modo a derrota de 2002. O meu romance de estreia na literatura foi publicado e em seguida agraciado com os prêmios máximos da literatura brasileira; e Sergio Machado, com o apoio de Renan Calheiros e de outros líderes do PMDB, foi escolhido por Lula para dirigir a Transpetro. 

A notícia me alegrou de verdade, afinal, Sérgio Machado estava sem recursos e carecia se refazer do tombo. Mas ao saber que seu partido (PMDB) estava completamente seduzido pelas facilidades do poder e que passaria a dormir no covil de promiscuidade do PT, preferi me manter distante do novo projeto do Sergio Machado, chegando a dizer para três amigos que ocupariam os cargos de comando na Transpetro, que eu continuaria escrevendo livros e fazendo oposição a Lula e ao PT. 

Naquela época o genial Beni Veras, um amigo da iniciativa privada que Tasso Jereissati escolhera como seu vice-governador, cunhou uma frase na FIEC que se tornaria icônica e trágica: Seu amigo Sergio Machado sairá da Transpetro rico ou preso. 

Confesso que à época eu cheguei a pensar que o meu amigo Beni Veras estava com inveja do Sergio, afinal, comandar uma Transpetro era muito mais fácil do que dirigir um Estado pobre, endividado e com problemas em todas as suas área finalísticas. 

Após 13 anos sem nenhum contato pessoal com Sergio Machado, não por intriga, mas porque o meu ofício de escritor exige reclusão, eis que seu nome, sua imagem e sua trama delatora estouraram no noticiário do Brasil como uma bomba, e só então eu percebi que, cumprira-se com plenitude e autarcia o vaticínio do sábio e probo, Beni Veras: Sergio Machado foi mesmo banido da Transpetro, rico e preso. 

Ruy Câmara

http://blogdoescritorruycmara.blogspot.com.br/2016/06/cronica-da-delacao-superpremiada-de.html

terça-feira, junho 07, 2016

A CATÁSTROFE PODE SER MAIOR

Desde 2010 eu venho postando textos e vídeos nas redes sociais, chamando atenção para o endividamento crescente do Brasil, para o desleixo do governo Dilma com as contas públicas e alertei os leitores que me acompanham para o colapso econômico do país a partir de 2014. 


Apesar dos ardis contábeis, das pedaladas e da maquiagem fraudulentas das contas públicas, infelizmente as previsões quanto ao desastre produzido pelo governo Dilma se confirmaram com autarcia. 

Hoje, como muito mais informações e conhecimento sobre a situação real do nosso país (agravada por dezenas de fatores, como a endemia da corrupção; o desemprego de 12 milhões de pessoas; o descrédito perante os agentes econômicos internacionais; inflação combinada com estagnação econômica; queda da arrecadação e endividamento crescente; e ademais de de um rombo fiscal de R$ 170 bilhões e de reservas financeiras estimadas em apenas U$ 376 milhões) Lula, Dilma e o PT deixam o Brasil arruinado moralmente, politicamente, economicamente e com uma divida pública impagável nos próximos 20 anos, de R$ 3,70 trilhões, segundo os dados do próprio Tesouro Nacional. 

Apesar do desastre incontentável da economia brasileira, ouso afirmar que essa crise não será nada, nadinha mesmo, diante da catástrofe que o Brasil poderá sofrer e viver com ela por anos e anos à fio, caso Dilma e o PT retornem ao poder por irresponsabilidade das autoridades que estão sendo cooptados em benefício próprio para barrar o processo de impeachment contra Dilma.  

Afirmo, com plena convicção que, nesse momento caótico da vida nacional, não há irresponsabilidade maior do que o $emprenho$ de algumas autoridades do judiciário e também de parlamentares pelo retorno de DILMA com seu bando de ladrões ao poder. 

O governo do presidente Temer pode não ser a opção que sonhamos para salvar o país do desastre produzido pelo fracassado e desastrado desgoverno Dilma, mas nesse momento ele é, sem a mínima sombra de dúvida, a melhor opção, porque é a única (constitucionalmente falando) que nos resta até 2018, quando poderemos eleger o novo presidente do Brasil. 

O bom senso e razão são atributos de intelectuais que não devem se curvar às paixões ideológicas ou políticas rastejantes, notadamente quando as circunstâncias mais adversas ameaçam impingir o caos sobre uma sociedade formada por mais de 200 milhões de pessoas, como é o caso do situação do nosso país no presente tempo. 

Por isso, volto a chamar a atenção dos brasileiros conscientes sobre os riscos reais e iminentes que corremos hoje de experimentarmos na carne, no bolso e nos lares deste país, os efeitos catastróficos de um hecatombe econômico sem precedentes na história da América Latina. Esse desastre tem nome e causa e chama-se: DILMA e PT.

O Brasil precisa ficar bastante atento aos votos dos senadores que não são do PT, como por exemplo: Cristovam Buarque, Edison Lobão, Eduardo Braga, Jader Barbalho, Acir Gurgacz, Antônio Carlos Valadares, José Maranhão, Hélio José, Omar Aziz, Reguffe, Roberto Rocha, Romário e Sérgio Petecão, sem contar. 

Esses senadores já deram sinais de que, em troca de vantagens pessoais muito secretas, poderão aplicar um golpe mortal na nação durante a votação do impeachment de DILMA. Se eles assim decidirem, volto a vaticinar, sem medo de errar: nosso país e o nosso povo (já tão maltratados) saberão o que é verdadeiramente um pandemônio, um caos social, político e econômico muito mais causticante e avassalador do que o inferno diário em que vivem os venezuelanos com o governo Maduro.

Ouçam bem o que afirmo: nosso país só tem hoje um caminho para fazer com relativa segurança essa perigosa e complexa travessia: apoiar os trabalhos de recuperação da economia que vem sendo empreendidos com rigor pelos membros da equipe econômica do governo interino do presidente Temer. 

Ou apoiamos com firmeza o governo do presidente Michel Temer, ou em breve teremos de assumir que somos igualmente responsáveis e cúmplices com o desastre que se desenha por $incúria$ e $safadeza$ de um punhado de senadores ordinários e descomprometidos com o presente e o futuro do nosso país. 

Ruy Câmara.


http://blogdoescritorruycmara.blogspot.com.br/2016/06/o-caminho-para-travessia.html



domingo, junho 05, 2016

ELEGIA AO AMIGO e POETA JOSÉ TELES.


“Quantos mistérios se ocultam no ato de morrer?”, indaguei-me na chegada ao quarto e fiz um gesto solene ao ver o vate de Bitupitá, meu amigo de todas as horas, José Telles, deitado com as pálpebras entreabertas sobre um olhar espiritualizado, movendo apenas os braços e os lábios retorcidos, como se aquela impassividade de cadáver fosse o último recurso para suportar resignadamente os incômodos das dores e das suas consequências.

Nenhuma posição no leito era de conforto, mas a sua consciência parecia resistir melhor ao caos do que o corpo em ruínas, uma ruína que aparentemente era restaurada pelo silêncio que embotava todos os olhares. Apesar de tudo, nosso poeta riu às escâncaras ao ouvir uma ironia do poeta, Carlos Augusto Viana, que acabara de se postar ao lado: "Ah se nesse saco de soro tivesse uma meiota de whisky!" Em seguida sentou-se e pediu a Aninha uma dose de Whisky antes de recitar um trecho de “A Sagração dos Ossos”, uma ode à Ivan Junqueira, quem por força do destino, dorme em sua tumba no Cemitério do Rio de Janeiro. Após um breve silêncio a voz trêmula do Carlos Augusto ecoou no quarto:

Os mortos sentam-se à mesa, 
mas sem tocar na comida; 
ora fartos, já não comem
senão côdeas de infinito. 
Quedam-se esquivos, longínquos,
como a escutar o estribilho
do silêncio que desliza
sobre a medula do frio. 
Sei de mortos que partiram
quase vivos, entre lírios
outros sei que, sibilinos, 
furtaram-se às despedidas.

Eis que o Vate de Bitupitá arregalou os olhos e disse: "Aquilo a que em geral chamamos vida nada tem de comum, mesmo na mais feliz das suas expressões, como essa outra banda da vida que agora conheço e que sofro minuto a minuto, segundo a segundo! Não! Já não há minutos, já não há segundos! O tempo vai desaparecer. É a eternidade que reina, uma eternidade daninha, feita de mistérios! ”

O calor causticante das palavras incandescentes do poeta José Telles invadiram o quarto para apressar a decisão de quem estava prestes a se desvencilhar dos turbilhões caóticos do mundo opaco em que se encontrava, mas que, por uma razão indesvelável, ainda parecia rir das próprias agonias, e também dos nossos olhares ociosos, banhados de zelo, os quais, de tanta comoção, pareciam crispá-lo de energias rígidas, deprimidas, tanto que me perguntei: “De onde ele retira forças para enfrentar as turbulências existenciais e o vazio que supomos conter na alma? Como enfrentar as ameaças alucinantes diante do inexplicável, preso ao corpo que, mesmo pálido e frágil ainda ousa o prazer de um devaneio?

Para quebrar o tédio, peguei o celular e disse: “Ouça essa música, amigo Telles.” Nos primeiros acordes percebi que seus sentidos estavam bastante atentos à sintonia do repertório de Denise Emmer, musicada em elegia ao poeta Ivan Junqueira. Magdala, Aninha, Carlos Augusto e Eu, vimos que as notas musicais extraídas com suavidade das mãos delicadas da bela e exímia pianista, agiam sobre o nosso poeta como um bálsamo benigno, retirado de uma fonte inesgotável de amor, de cujo poder pacificador superou muitas vezes o da ingestão dos fármacos e das substâncias alucinógenas para conter suas dores, de cuja sensação de hilaridade produziria nas próximas horas uma felicidade ébria, absoluta, ou algo mais poderoso com o qual a vida ganharia uma conotação egocêntrica, em que todos os esforços só serviriam para acirrar o conflito da desincompatibilização carne-espírito, obviamente depois de sugerir uma paz enlanguescedora, tão frágil quanto o fio de vida que se liga às concepções mais tênues de um mundo incompreensível a um espírito generoso e circunspecto, um espírito duro e manso que permanecia atenazado na fronteira da existência por um sorriso carregado de esperanças, a requerer, de um lado, a compreensão dos amigos, e do outro, a esperada benevolência da morte.

Como nos velhos tempos em que uma ampola de Whisky inebriava os nossos sonhos, naquele quarto sufocante o poeta via os amigos inquietos, aflitos, como se cada um acalantasse o secreto desejo de vê-lo poupado na próxima agonia. Mas, apesar da náusea, ele permanecia atento a tudo, talvez porque não lhe aprazia chegar à beatitude por meios artificiais, como a beatitude dos loucos, que recebem uma calma injetável, de onde eclodem sonhos dantescos, a embriaguez misteriosa, os ideais sem nexo, até o momento em que são libertados dos sonhos sádicos das almas acrisoladas por etéreos soníferos, ou pelos mistérios que virão a possuí-los, tal como a aurora boreal possui a beleza de si mesma diante do esplendor de um poema contemplativo que surgirá no momento em que tudo parece se extinguir.

Nosso poeta já dormia com as suas glórias, mas no quarto onde a família estava, a noite de vigília seria longa. Quem o visse preso ao leito de morte, entendia a proibição surda que o impedia de comentar sobre o quanto é difícil a hora decisiva. Mas José Telles, um durão-crônico, mantinha-se impávido naquele instante singular, e parecia retirar da música de Denise Emmer a energia amena de uma prece benigna que brotara da alma de Ivan Junqueira, como se brotasse de um Ser majestoso que não cobra servidão aos vencidos no Armagedom.

Como num passo de lucidez, as alegrias que povoaram repentinamente os seus pensamentos, se entrelaçaram com as convicções de que é verdadeiramente amado por todos. Sua consciência parecia inundada de recordações e viajava nas asas dos versos proféticos, acompanhando o ritmo harmonioso que invadia seu corpo, palco de uma luta horrenda, extenuada.

Naqueles instantes lentos, os acordes finais de Denise Emmer duraram uma eternidade, ao certo, a categoria mais abrangente da totalidade. “É provável que ele tenha dito para si mesmo: “Enfim, enfim, eu amei a vida e as musas, e por amá-las tanto, tornei-me o mais cortejado dentre os poetas idealinos, ou talvez um dândi sexagenário que, mesmo sofrendo, não posso ignorar o lado doce da vida. ”

Às 14h06 desta quinta-feira, recebi a triste notícia. Larguei o prato sobre a mesa, levantei-me constrito, cravei a unha e arranquei o dia 02 de junho de 2016 do calendário. Já não havia mais nada a fazer, senão deixar o pranto escorrer enquanto eu enviava a última mensagem para o whatsapp do nosso poeta, amigo e irmão de todas as horas:

“Permita uma despedida, meu irmão Telles, se é que tu me escutas o íntimo, já que só o íntimo é capaz de traduzir a minha melancolia diante da fatalidade, esse estranho poder que vive a nos contrariar. Como bem dissestes um dia, para espanto dos amantes do delírio, um bom POETA já tem em vista o seu último verso quando escreve a primeira estrofe. Portanto, ele pode começar seu poema pelo fim e trabalhar, quando lhe agradar, em qualquer parte. É, pois, hora de recomeçar uma nova obra pelo fim, talvez o mais lícito e não menos desejado do que um poema perfumado de flores exóticas, por onde a tua essência flui com uma potência misteriosa que se entrecruza com o imperceptível e com o que aparentemente inexiste aos olhos da ciência e da moral. Não sabemos se é essa espécie de instinto poético que nos faz considerar que a sede insaciável de viver é o que nos opõe à morte e ao ignoto. Seria a finitude uma suposição, o nada absoluto para onde tudo converge, ou um ponto onde se perpetua a imortalidade das essências? Ide, meu poeta José Telles, semeando os teus poemas mais suaves sobre os campos férteis da imortalidade, e quem sabe, com a tua luz benfazeja e generosa, consiga desvelar para todos nós, seus amigos e admiradores, o que verdadeiramente se oculta por detrás desse panorama suprareal que a nossa pobre imaginação não consegue desvelar. Despeço-me com o coração constrito, repetindo o último poema que recitamos juntos, numa noite ébria de desassossego no Ideal Clube:

Baixa uma névoa viscosa
sobre as pálpebras da aurora. 
E ali, de pé, sob a estola de um macabro sacerdote,
sagro estes ossos que, póstumos
recusam-se à própria sorte, 
como a dizer-me nos olhos: 
a vida é maior que a morte.

Ruy Câmara

https://www.youtube.com/watch?v=6g0CotuoYto