Hoje, 03 de abril de 2021, o Ceará foi despertado com uma triste notícia: a morte do Cel. Adauto Bezerra, um dos filhos mais ilustres desta terra, a quem eu prezava e admirava muitíssimo desde os anos 80, quando fui recebido pela primeira vez em seu gabinete no BIC BANCO para honrar um compromisso financeiro.
A morte, que há 3 meses o espreitava com a espada em punho, certamente já dava sinais de impaciência ao vê-lo resistindo e lutando bravamente pela vida, apesar das comorbidades e da sua provecta idade de 94 anos.
Tanto é verdade que, quem privava da sua amizade e o visse poucos meses antes, sentado àquela mesa enorme e farta onde Silvana Solon, sua zelosa mulher, reunia os familiares e alguns amigos para almoçar, percebia que ele não se entregaria fácil e que estaria disposto, muito disposto, a continuar firme em sua trincheira, fazendo o bem aos pobres e doentes na Santa Casa de Misericórdia, e combatendo de pé como patriota exemplar que era, as aves de rapina e incendiários que dilapidam o nosso país, como de fato o fizera até o instante derradeiro e trágico do alvor deste dia 03 de abril.
E quantas vezes eu e minha mulher Rossana, sua sobrinha, fomos à Praça Portugal e às ruas de Fortaleza em sua companhia, sempre ao lado de Silvana e do seu filho caçula, Artur, para apoiarmos os protestos do povo contra os larápios federais, estaduais e municipais que tomaram o nosso país de assalto.
Eu sempre tive dificuldade de aceitar a morte de alguém a quem estimo e tenho afeto! Talvez por isso eu considere a morte, essa companheira traiçoeira e inconfiável, como um grave e sumário erro de contagem do tempo. Mas nesses tempos confusos em que vivemos, parece certo dizer que a morte deixa de ser uma pausa silenciosa e eterna da sinfonia da vida, para ser reduzida a uma mera simplificação matemática, mesmo sendo um evento estarrecedor para quem perde um ente querido.
Certa vez, conversando sobre política em seu apartamento, eu o perguntei:
- Por que o senhor ainda ajuda certos políticos ordinários e falastrões que tentaram destruir a sua reputação chamando-o de forças do atraso?
Ele esboçou um sorriso maroto e me respondeu: Eu sei a quem você se refere. Ele me procurou e eu não lhe neguei uma ajuda. Aliás, ao longo dos últimos 50 anos, quase todos os políticos do Ceará, antigos e novatos, me assediaram e bateram à minha porta para pedir o meu apoio político ou dinheiro para suas campanhas, e eu ajudei a quase todos eles.
Eu aproveitei a resposta e voltei a perguntar se Ele tinha mágoas de algum político que o apunhalara pelas costas no Ceará?
Ele respondeu sem pestanejar: Mágoas eu não tenho de ninguém, mas não aprecio a ingratidão, nem a inveja, porque para mim, os ingratos e invejosos sofrem de uma deformação de caráter e de consciência. Esse tipo de gente não tem palavra, não honra compromissos, não paga dívidas e ainda fala mal de quem o ajuda.
Creio que, na estação da vida a que chegou o nosso querido Cel. Adauto Bezerra, apesar dos seus 94 anos, ainda podia Ele ouvir nos ecos do passado, os passos vitoriosos da sua longeva caminhada dando vigo à sua existência.
Por tudo que Ele fez e realizou ao longo de uma vida dedicada ao trabalho, é bem provável que o grande segredo de viver intensamente a vida o acompanhe para além dos umbrais deste mundo, mundo que ele conheceu tão bem e que, com certeza, dera o melhor de si para melhorá-lo e exemplificá-lo pela honra, decência e compromisso.
E acredito que, mesmo estando Ele deitado ao leito de morte e sob os efeitos dos fármacos, nos instantes que antecederam a sua partida, Ele, certamente, deve ter sentido a aproximação do vulto do seu irmão, seu melhor amigo e sua alma gêmea, Cel. Humberto Bezerra, estendendo sua mão generosa e o convidando para a um passeio sem pressa nas plagas de Juazeiro do Norte, de onde certamente ombrearam mais uma longa travessia e seguiriam em frente rumo à eternidade.
Adeus, querido e saudoso Cel. Adauto Bezerra. Adeus!
Ruy Câmara
BREVE
BIOGRAFIA
JOSÉ ADAUTO BEZERRA MENEZES, filho de José Bezerra de Menezes e Maria Amélia Bezerra, nasceu em 3 de julho de 1925, em Juazeiro do Norte (CE), onde viveu sua infância ao lado dos irmãos: Alacoque Bezerra, Leandro Bezerra, Humberto Bezerra, Neide Bezerra, Orlando Bezerra e Ivan Bezerra.
Na juventude, Adauto Bezerra frequentou curso de Oficial na Academia Militar das Agulhas Negras (RJ) a partir de 1943. Foi declarado aspirante a oficial da arma de artilharia em dezembro de 1949. Em 1950, 1952 e 1954, foi promovido, respectivamente, a segundo-tenente, primeiro-tenente e Capitão do Exército. Posteriormente, frequentou cursos na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (Esao).
Adauto Bezerra teve uma vida marcante na política do Ceará, tendo sido eleito deputado estadual entre os anos de 1958-1975, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará por duas vezes, em 1967 e entre 1971 e 1972, foi Governador do Ceará entre os anos de 1975-1978"; Deputado Federal de 1979-1982 e em novembro de 1982, foi eleito Vice-Governador do Ceará na chapa encabeçada por Gonzaga Mota (PDS), que derrotou o emedebista Mauro Benevides.
Com a eleição de Fernando Collor de Mello para presidente do Brasil, em 1989, foi nomeado para presidir a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1990, permanecendo no cargo até abril de 1991.
Após abandonar a vida pública juntamente com seu irmão gêmeo, Humberto Bezerra, ambos passaram a se dedicar aos negócios como sócios-proprietários do Bic Banco, que posteriormente foi vendido a um banco chinês.