Fortaleza, 04 de julho de 2012.
Ao Secretário de Cultura do Ceará, Francisco Pinheiro (PT):
Tudo o que diz respeito à Cultura também me diz respeito, Sr. Pinheiro. Ao longo das suas experimentações e indecisões entre assumir-se deputado estadual de num parlamento cooptado pelo governo ou tornar-se secretário de cultura de um governo completamente descomprometido com a Cultura, mantive-me silente, em respeito ao seu direito de fazer escolhas pessoais.
Mas as suas flutuações, idas e vindas, abandonos e posses, ultrapassaram o limite da minha tolerância, o limite do aceitável, o limite do bom senso e da razão, chegando mesmo a se configurar ridícula e prejudicial as suas indecisões e enfatuações. Por esse motivo decidi me manifestar de forma franca e direta, para dizer ao governo e à sociedade que lamento profundamente o seu retorno à pasta da Cultura.
Mas, assim como outros coveiros do mecenato (que ajudaram na demolição do edifício que construímos outrora às duras penas) você também passará, e espero que impunemente, mas saiba que sequer será lembrado, senão e apenas pelos desatinos, pela sua falta de compromisso com a Cultura, pela embromação das ações e pelos descumprimentos sucessivos de prazos desses famigerados editais de cultura (invento dos adeptos da sub-cultura de engessamento da criação), inventos desses gestores míopes e rastaqueras que tão perversamente se empenham em inibir os criadores, produtores e realizadores independentes com o nadismo de suas ações umbilicais e politiqueiras.
Digo-lhe isso com toda serenidade e sinceridade, e sem intenção alguma de atrapalhar os seus planos pessoais, mas como homem de letras e de cultura (há 20 anos abdiquei de tudo para escrever livros e pensar pela parte que não pensa), solicito do governo do Ceará um mínimo de respeito para com a Cultura, para com os autores, produtores e realizadores, afinal, somos nós quem fomentamos Cultura e justificamos a pasta com seus orçamentos, e não o contrário, como equivocadamente presume o governo descomprometido do Sr. Cid Gomes.
Não se iluda, Sr. Francisco Pinheiro: nos desvios de trajetória daquele(a)s que ajudaram a implantar no Ceará essa sub-cultura tupiniquim e inútil, veremos quem verdadeira e legitimamente terá o prazo de validade esticado no arco do tempo. O tempo que espere, pois o tempo foi feito para esperar.
Ruy Câmara
Escritor.
http://blogdoescritorruycmara.blogspot.com.br/2012/07/fortaleza-04-de-julho-de-2012-carta.html
Há tempos não lia uma defesa de pensamento tão bem elaborada, direta e crua como esta. Como cearense e artista não pude deixar de me emocionar e de compartilhar da sua indignação revelada de forma tão transparente, sem arroubos e com uma sabedoria que só o tempo mesmo é responsável. Abraços. Vládia Queiroz
ResponderExcluirOlá Vládia:
ExcluirPinheiro passou, vieram outros que também passaram e agora aparece mais um, que também passará sem deixar rastros ou saudade. Esses ordinários gestores arruinaram a nossa raquítica industria de produção de cultura e arte.