Jamais concordei com os esforços de interferências externas ou de fiscalização externa dos atos do judiciário brasileiro. Mas diante das aberrações jurídicas que testemunhamos cotidianamente no Brasil, começo e rever o meu posicionamento, afinal, saltam aos olhos da sociedade os desvios de foco e de conduta de muitos senhores que atuam nos tribunais judiciários, sejam na condição de autores, defensores, cúmplices, reféns ou de soberanos do que Cícero chamou de "embuste legalista" e processual.
Os embustes legalistas e processuais tornam o Brasil uma Nação fértil para a prática do crime, para a ampliação da criminalidade e para o abrigo de criminosos (nacionais e internacionais), porque o sistema judiciário, em sua totalidade, foi sendo moldado ao longo do tempo para protelar ad-aeternum a tramitação e a aplicação das sentenças, abrindo assim caminhos largos para a impunidade que o próprio sistema consagra, em suas instâncias e disposições formais, como juridicamente legais ou atos perfeitos de justiça, mesmo sendo alguns, por convicção geral e provas abundantes, atos deformados e destituídos de justiça.
O código penal brasileiro é falho e a cada dia se desvia da racionalidade que fundamenta a noção de direito e de justiça porque permite tudo, inclusive a supremacia da concepção legalista, que submete o mérito ao rito processual e à burocracia ineficaz do Estado.
Um criminoso mata, esfola, estupra, sequestra, rouba e, ao ser alcançado, contrata um advogado astuto, de preferência com trânsito e influência no judiciário (muitas vezes por força do dinheiro sujo para corromper consciências) e o tempo que espere o veredicto, afinal, o tempo na justiça do Brasil foi aprontado para esperar e esperar.
Um criminoso mata, esfola, estupra, sequestra, rouba e, ao ser alcançado, contrata um advogado astuto, de preferência com trânsito e influência no judiciário (muitas vezes por força do dinheiro sujo para corromper consciências) e o tempo que espere o veredicto, afinal, o tempo na justiça do Brasil foi aprontado para esperar e esperar.
Enquanto um processo se avoluma com recursos e mais recursos, o ministério público se desilude ou se acomoda, o juiz se omite quando instado a imprimir sua convicção; a defensa segue ganhando dinheiro, fama e prestígio nas mídias sensacionalistas e o criminoso permanece impune com suas culpas e ao errepio da Lei.
Quantos políticos criminosos continuam impunes e longe dos tentáculos da Lei. O foro privilegiado nada mais é do que a aplicação clássica da jurisprudência de impunidade nacional, impunidade que é sempre e cotidianamente amparada por recursos legalistas que comportam tudo, inclusive a inversão da culpa.
Eis um exemplo do que ocorre na prática: a acusação peticiona; a defesa desvia o foco e afasta-se da causa verdadeira (fato criminoso); invoca-se jurisprudências que força o juiz a tornar irrelevante o ato criminoso, ignorando assim a autoria e as consequências do crime; e centram-se todos na formalidade processual ou de competência, que é a (farsa e o embuste do rito); e com dinheiro e prestígio a defesa vai encontrando no vazio moral da justiça as brechas de impunidade capazes de isentarem o criminoso da merecida e esperada punição, apesar, muitas vezes, da convicção geral de sua culpa e até mesmo das provas cabais e incontestáveis do seu ato criminoso. As farsas e os embustes da formalidade processual são, sem dúvida alguma, a verdadeira aberração moral da JUSTIÇA e a razão primordial da IMPUNIDADE nacional.
A superação da crise de identidade da justiça brasileira depende, fundamental e urgentemente de uma reforma estrutural das instâncias jurídicas; de uma revisão constitucional do sistema de códigos; de uma reforma administrativa capaz de dotá-la de mais agilidade para a solução das contendas de mérito (como ocorre no sistema judiciário dos Estados Unidos) e, principalmente, de uma ampla REFORMA MORAL que possa embasar o veredicto mais justo e também a sua aplicação.
Ruy Câmara
Escritor
Prezado Ruy, você abordou uma face do problema; eu vejo outra. Construiu-se um consenso no Brasil que deturpa as noções de certo ou errado.
ResponderExcluirO pobre é sempre bom, o rico é sempre mau, a natureza é intocável, o índio é sagrado.
Muitos já consideram tudo isso como verdades inquestionáveis. A situação é pior do que parece, pois há muitos outros conceitos tortos, já assimilados pela Sociedade como dogmas.
Isso se manifesta nas decisões da nossa Justiça.
Por dever de ofício, recebo diariamente uma resenha de um site jurídico, o Newsletter Jurídica. Ruy, é preciso estômago para assimilar algumas decisões jurídicas ou iniciativas do Ministério Público.
Aliás, eu considero o Ministério Público como a criatura que engoliu o criador. Para mim, esse órgão acumulou poder demais e controle de menos.
Eu tenho mais medo do MP do que respeito. Devia ser o contrário, mas não é.
Por fim, a última linha de seu texto fala da reforma moral. Concordo plenamente. Torço para que não seja tarde demais.
Abraço
Clóvis Ilha
Prezado Clóvis, congratulo-me e parabenizo-lhe pelos pertinentes e sábios comentário. O Brasil precisa, mais do que nunca, de gente decente e capaz de enfrentar as gangues que se entronaram no poder. Vamos em frente, sempre em frente, enfrentando sem temor esses tipos ordinários que logo mais estarão pregando o extermínio humano para o bem da suprema natureza. Ignoram solene que o homem, assim como a natureza (partes constitutivas e complementares entre si) quando ameaçados, sabem reagir. Um cordial abraço
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